''Mas não tem nada não
tenho meu violão''

(Cotidiano nº2 - Toquinho & Vinicius)

17.12.02

"Ninguém pode explicar a vida
num samba curto"

(Num Samba Curto - Paulinho da Viola)

Não é Luiza. Luiza já faz tempo. Luiza nem dói mais, se eu não cutucar. Fica latejando, mas nada de insuportável, longe disso.
Também não é o japonês que se matou. Ele tomou sua decisão, planejou o que queria e seu plano foi bem-sucedido. Não fico triste por ele. Sequer penso nele, e só me lembrei ao começar a escrever.
Sou eu. Sou eu e essas músicas. Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinam, Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Djavan, Gonzaguinha, Cazuza. Todos homens tristes que escreveram ou ainda escrevem seus versos tristes. E eu canto esses versos todos os dias, por profissão. Não há como não se deixar influenciar, por mais que eu tente. Associo trechos de músicas a cada acontecimento, por banal que seja, e essa é minha principal loucura. Quero escapar disso e não consigo. Agora mesmo que pensei nisso, e comecei a perceber o quanto isso atrapalha minha vida, o trecho de "Num Samba Curto" surgiu espontaneamente na minha cabeça, antes mesmo do raciocínio. Insuportável ironia.
Preciso fugir disso. Preciso impedir a erosão da minha sanidade. Um emprego. Um emprego normal, de acordar cedo e ir para um escritório, e fazer uma hora de almoço, e voltar para casa no fim da tarde. Mas o que é que eu sei fazer? Meus detratores dirão que não sei fazer nem o que deveria saber, que é tocar violão e cantar; e eu serei o primeiro a concordar. No entanto, sou uma espécie de autista, um deficiente cuja única capacidade é essa, de cantar mal e tocar pior. Para todas as outras coisas, sou um completo inútil.
Então continuo. Contra minha vontade, continuo. Entre uma música e outra, um pouco de álcool para enganar a mente. Entre o bar e o puteiro, mais uma mulher genérica e descartável, mais um enorme desperdício de tempo. Ok, gostei muito de ter te conhecido, mas eu andei pensando, acho melhor a gente parar antes que blablablá. Sempre o mesmo papo, e uma vontade imensa de dizer a verdade, "Você é chata", ou "Você beija mal", ou "Sua bunda é estranha", ou "Você é perfeita, mas não é Luiza". "Andei pensando" é o caralho, antes de embarcar em mais uma roubada dessas eu já sei que não vai dar em nada, e só levo adiante para comprovar minha incompetência.
São as músicas. Malditas músicas. E esse medo.

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