''Mas não tem nada não
tenho meu violão''

(Cotidiano nº2 - Toquinho & Vinicius)

17.9.02

"Vejo fulana a festejar na revista
Vejo beltrana a bordejar no pedaço
Divinais garotas
Belas donzelas no salão de beleza
Altas gazelas nos jardins do palácio
Eu sou mais as putas"

(Cambaio - Edu Lobo e Chico Buarque)

Segunda-feira, que beleza! Ah, não acha? Pois eu sim: é meu dia de folga. Domingo também, mas sempre tem algum bico para fazer aos domingos, e não estou em condições de respeitar dias santos. Mas a segunda-feira é totalmente dedicada ao ócio. É meio complicado, porque meus poucos amigos não se animam a fazer nada nesse dia da semana, então geralmente passo o dia todo em casa mesmo, ou andando pelo bairro e jogando conversa fora com os velhinhos (parece que todo mundo que passa dos 75 anos vem morar por aqui, é impressionante).
Pois então, domingos e segundas. E o que eu faço nos outros dias? De quinta a sábado toco naquele bar do qual já falei bastante. Às terças e quartas toco em outro lugar. Um lugar que... Como direi? Bom. Um rendez vous. É, isso aí, um lupanar. Um puteiro.
Não riam! Tá bom, vai. Riam. É meio esquisito mesmo. Músico de puteiro era tudo o que meus pais não queriam que eu fosse. Mas o mundo gira e gira, e quando a gente se dá conta já ficou tonto e está tocando guitarra num puteirinho dos mais fuleiros.
Que posso dizer em minha defesa? Primeiro o mais forte: Tom Jobim começou desse jeito, sabiam? Tocava em qualquer lugar, inclusive puteiros, para garantir o pagamento do aluguel. Mas o Tom sabia o que queria. Eu estou mais para aquele parceiro dele, o Newton Mendonça, e provavelmente morrerei cedo e anônimo, assim como ele. Acho que nem isso, porque ambos tinham em comum o talento extraordinário. Não tenho nada de extraordinário, a não ser, talvez, a absoluta falta de vergonha na cara.
Fora essa desculpinha de Tom Jobim -- que ninguém engole mesmo -- no bordel os recursos são bem melhores. Ou menos piores: toco minha guitarra ligada a uma mesa de dezesseis canais, o microfone é de qualidade razoável, tenho um baterista e um baixista que me acompanham (“me perseguem” seria mais apropriado) e, puxa!, até uma caixa de retorno. Não que o retorno seja uma boa coisa, é mais uma vingança do público: “"Ouve só o que a gente tem que agüentar”".
E tem mais uma vantagem: o público do puteiro é bem mais caloroso. Sou aplaudido sempre. As meninas pedem músicas, e adoram quando eu canto Geni e o Zepelim, do Chico Buarque.
Ah, as putas... Você, caro leitor, nunca pagou para fazer sexo? A não ser que você seja virgem, duvido muito. Toda mulher cobra por sexo, seja em dinheiro, seja em presentes, seja em poder. Sim, meu caro: poder sobre a sua vida. A única diferença entre as mulheres que você deve chamar de “decentes” ou qualquer outro adjetivo idiota desses, e as putas, é que estas chegaram a um tal patamar de pureza na vida que estipulam o preço antes de qualquer outra coisa. Jogo aberto, é disso que estou falando. E são grandes amigas, engraçadas, seguras de si, nada daquele nhenhenhém.
Pareço um tanto desiludido com o sexo oposto? É, acho que sou mesmo. E talvez eu conte a vocês a razão disso um dia. Ah, já contei até das minhas hemorróidas, não tenho mais pudores. Estejam por aqui amanhã, vamos ver se conseguimos ter uma conversa mais pessoal.